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sábado, abril 28, 2007

E viva o mito da "Democracia racial"!

Já reparei que entre as mentiras que a há muito são destinadas a encobrir as mazelas sociais com as quais convivemos, uma - de características pontuais – há muito vem resistindo a abalos e contestações: o “Mito da Democracia Racial”.
Fundada na irrenunciável idéia de que o brasileiro é o povo mais feliz da terra e que o Brasil é o melhor lugar para se viver, grande parcela da sociedade brasileira tem insistentemente se recusado a reconhecer que o racismo, muito mais do que “sentimento negativo” ou uma “conduta reprovável” é um problema social de longa data, provocado por questões diversas que remontam ao nosso reconhecimento enquanto Estado Soberano, e cuja manifestação além de não respeitar fronteiras territoriais, podem trazer prejuízos irrecuperáveis à sociedade.
Acontece que apesar de confortável a conservação deste mito, é impossível fecharmos os olhos para o sem número de fatos históricos que explicam e ao mesmo tempo denunciam as motivações sociais econômicas e políticas que deram cabo à sociedade da exclusão então constituída.
Ñão quero aqui impor teorias, criar hipóteses ou coisa assim, mas se confrontarmos a compreensão do que traduz a idéia de ESTADO, - “comunidade de homens assentados sob um território, que dispõe de soberania e vincula todos a obedecerem a suas normas” - com a acepção sociológica descrita por Oppenhueirmer – “instituição social que um grupo vitorioso impôs a um grupo vencido, com o fim de organizar o domínio do primeiro sobre o segundo e resguardar-se contra rebeliões internas ou externas”, somos remetidos àquela idéia de disponibilidade de Direitos em prol do bem comum, mas ao msm tempo descobrimos a natureza "perniciosa" dos homens, revelando-nos como seres obstinados pelo poder e pelo domínio de fortes e fracos.
Estaríamos então, ante a confirmação ou negação da teoria do “Bom Selvagem” de Rosseau? Será o homem naturalmente bom ou a presença da sociedade realmente o corrompe?
Seguindo esta linha de pensamento, investigando as entrelinhas da nossa história e analisando o comportamento do homem enquanto ser social, encontraremos pontuais manifestações dos preconceitos que acompanham as sociedades. Já na Grécia clássica, antes da Era cristã, a escravidão era uma prática social comum, assim como em muitas outras civilizações do Oriente, e assim prosseguiu por todo o mundo ocidental. Mudavam-se os critérios, mas o processo de exploração de homens por homens manteve-se inabalável por mais de 20 séculos.
É exatamente a esta mudança de critérios que se associa o Racismo. Apontar no semelhante diferenças capazes de situá-lo em grupo social inferior, logo, estabelecendo uma desigualdade capaz de privar o outro de direitos e garantias ou mesmo oprimi-lo aos desmandos do grupo social “fisicamente superior”, por sutil que seja, é um processo tão ardiloso, que foi capaz de dividir a Raça Humana em pseudo-raças, estratificando o tecido social num grau quase que irreversível.
É o racismo a mesma “praga” que estratificou a sociedade indiana, que obstinou a sociedade espanhola do início do século XX na perseguição aos ciganos, que motivou a eclosão da 2ª Guerra Mundial e que dividiu a sociedade norte-americana em Pretos e Brancos. E no Brasil a segregação só não é mais evidente por que a sociedade insiste em vestir a “máscara da igualdade”, declarando respeitar o indivíduo independente da cor da pele apesar de emprestar um tratamento desigual a indivíduos de pele negra, evidente nas rotineiras práticas de pessoas que agarram com firmeza suas bolsas quando avistam homens negros, recusam-se a cumprimentá-los, emprestam um tratamento desigual mesmo para os consumidores, recusam-se a travar relações sociais com negros e negras, e ainda outro sem números de ações que só têm aprofundado esse abismo social que se coloca entre os homens. Aliando a isso as questões sócio-econômicas, desenhamos um cenário social onde até o ano 2004, o percentual de negros desempregados atingia a marca dos 22%, o número entre os analfabetos do país era de 80 % e em contra partida, os que ingressavam na Universidade compunham um irrizório número de 3,2%! Eis aí as entrelinhas da tão proclamada Democracia racial!
Entre os assustadores dados estatísticos e os deprimentes acontecimentos históricos, o fato é que o tortuoso caminho do racismo que temos trilhado tem garantido à nossa sociedade atrasos sociais que não condizem com os avanços obtidos pelas sociedades pó-modernas. Esse é um problema que não tem origem ou nacionalidade definida, portanto requer de nós a devida atenção e não raro, dos Estados a disposição para transformar. Somente o empenho conjunto – nos âmbitos nacional e internacional - para combater este problema e finalmente libertar a sociedade das causas que fazem dessa prática em pleno século XXI uma patologia social.
E volto a bater na mesma tecla: "é preciso antes de tudo mudar a si mesmo para poder mudar o meio"... Que tal começarmos agora???

4 comentários:

Unknown disse...

é aquele tipo de coisa que eu finjo que sou respeitado, vc finge que me respeita e a gente vai levando...

o problema é que a água vai achar outro buraco pra entrar

Anônimo disse...

olá Janaína, gostei muito do texto. O racismo é mesmo uma praga da qual pensamos estar imunes... ledo engano!!
Mas podemos começar a mudar isso agora!

Guilherme N. M. Muzulon disse...

De qualquer forma a Democracia plena em perfeito vigor ainda não é a melhor das sugestões ideais que esperamos, principalmente se quisermos um pouco de paz, amor e harmonia.

Éverton Vidal Azevedo disse...

Sim, a democracia racial é -ainda- apenas um sonho. Nao chego a dizer que é um mito.

É um sonho, alguns até já o tornaram realidade, após terem mudado a si mesmo.

Quanto ao bom selvagem que Rousseau me perdoe... mas acho que ele idealizou o que homem deveria ser, e nao o que ele é.

Contudo é sabendo quem somos (gostei mesmo de sua última frase janaína rs) que podemos crescer em direçao a uma verdadeira consciência de igualdade com o próximo.


Bjs!